13 abril 2011

Crônica de um coração partido

"De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto

 De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente..."  

(Vinícius de Moraes - Soneto de Separação)


Quem compartilha da poesia de Vinícius de Moraes, conhece a magia de seus versos. Sabe que assim como o Soneto de Fidelidade embala os corações em festa, o Soneto de Separação, acima reproduzido, reflete a desilusão de um coração partido.
É como se ele falasse do que cada um de nós sente quando uma história que deveria ser para sempre - segundo esse nosso romântico conceito que perdurará por gerações - de repente se desencaminha, tropeça, ou simplesmente se vai.
 O encanto mágico dos olhos se apaga, uma mão se perde da outra e a vida volta a ser a mesma vidinha sem graça de antes, só que desta vez com um vazio que teremos que aprender a conviver e usar de artimanhas e estripulias para driblar. Lágrimas secretas, passeios solitários. Os poemas lidos juntos, as músicas compartilhadas - tudo isso vai levar um tempo até que voltem a ser apenas palavras ou música normais, daquelas que se escuta, cantarola e se continua a trabalhar.
Mas  onde entra essa parte de se "partir o coração"? De onde isso vem?

Suponho eu que venha daquele bom e velho conceito romântico (olha ele ai mais uma vez!) de que uma metade do seu coração pertence à pessoa amada. Logo, se ela se for algum dia, levará consigo uma parte do seu coração.  Isso explica o fato de sempre se procurar uma cara METADE, ou a sua METADE da laranja, ou ainda, como muitos preferem dizer, alguém que te COMPLETE. Mas vem cá... Deus não te fez pela metade. Você tem UM coraçao INTEIRO dentro do peito. Por mais que venha um(a) idiota, 2,3,4... você continuará com as duas metadinhas do seu coração, lá, inteirinhas.
A não ser que você DÊ uma parte de você e ache isso romântico. E, depois, quando a pessoa se for - coisas da vida, lembre-se, o mundo não vai acabar! - lá vai você em busca de mais um pedaço de coração, já que ninguém vive com meio coração, né? O problema é que nem todo mundo vai fazer a filantropia de te dar um pedaço. Aí, você vai começar a sentir que tudo que a pessoa amada te dá é pouco. Porque você quer nada mais nada menos que a metade do coração dela.  Mas ela não pode de dar, poxa! Ninguém vive com meio coração, lembra? Aí ela se vai.
E aí recomeçará a ávida jornada em busca de se completar com o pedaço dos outros...

Antes que vocês achem que eu sou uma pessoa insensível, lembrem-se: eu sou pisciana e pisciano insensivel nao existe. O que eu quero dizer é o seguinte: ninguém tem que vir pra completar o "pedaço que está faltando". Você não falta pedaços, no máximo, precisa juntá-los em seus devidos lugares de novo. Aquela metade que você tanto procura nos outros você só vai encontrá-la em um lugar: dentro de você. Fique esperando a metade da laranja e você vai morrer de sede.
Ao invés disso, seja você a laranja inteira, faça a laranjada e espere apenas o açúcar. Ou o mel. Ou as folhas de hortelã. 

(pensou que ia ser um post de chororô, né?  SIM, eu sou surpreendente!! =D )


Beijoos, beijooos! ;**

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