10 dezembro 2012

Plagiando Gonzaga Jr.

Olás!


Lidar com meus problemas é algo que eu tenho tentado fazer. Aliás, acho que tenho feito com até considerável desenvoltura. Porém, passado afeta a gente, e quando você toma consciência do que fez e o que poderia ter feito diferente, misturada com aquela sensação de tempo perdido, a coisa dói. E por mais ridículo que seja, você fica se martirizando por não se encaixar nos estereótipos da sociedade. Ou por não ter uma vida tão perfeita que algumas pessoas tem, que soa quase um conto de fadas, muito irreal. Mas deixa eu organizar essas idéias, senão não vai passar de um aglomerado sem sentido.


Bom, a regra geral da vida, quando eu estava no terceiro ano do ensino médio (ano de 2002, sim, já se passaram 10 anos, uma década, ou seja como você quiser chamar, é muito tempo), era fazer vestibular - de preferencia numa federal, para se achar "a fodona", passar e continuar a partir daí. Sim, eu estudava numa escola particular, de nível consideravelmente alto, então cresci nessas expectativas. Nas escolas publicas, garanto que nunca foi muito assim, desse jeito. Bastava se formar, arrumar um emprego e pá. O resto, vida que seguia. O caso é que eu não fiz isso. Não quis fazer UFMG quando todo mundo fez, nem pra tentar. E eu teria passado se tivesse feito. Talvez por não saber exatamente o que eu queria. Ou talvez por falta de vontade mesmo. Fiz vestibular para um curso estadual, e passei consideravelmente bem. O problema é que as aulas eram em dois períodos - eu teria que me mudar pra cidade vizinha, além de pagar o preço considerável pra uma facul naqueles tempos. Pra algumas pessoas, isso é algo normal. Para mim, com 18 anos de idade, era algo difícil  porque eu sempre tive meu orgulho próprio e quis ser independente. O fato é que poderia contar com a minha mãe e minha avó, apenas. E dois anos apos termos perdido meu avô, a situação ainda tava um bocado complicada.Talvez com um esforço tivesse sido possível - mas não sei também se eu queria estudar naqueles dias. Na verdade, meu pensamento era descansar um bocado, antes de enfrentar uma faculdade. O ensino médio tinha sido bastante pesado e eu  não via problema em reservar um tempinho para repor as energias. E assim o fiz. Fiquei em casa, aproveitando o ócio por algum tempo. Arrumei alguns bicos pra fazer, estudava línguas nas horas vagas - foi nessa época que peguei o italiano com a unha e aprendi um bocado. Também fiz alguns bicos e ganhei uns trocados, na área acadêmica mesmo. E assim foi passando. Passou o meio do ano e eu não tentei nada - vestibular, eu quis dizer. Eu sempre estava em contato com  uma colega e a gente parecia andar na mesma sintonia. Até que ela conseguiu um bico e me contou. Ela já tava doidinha pra conseguir algo pra fazer e tals... e eu pensando em fazer vestibular no fim do ano e estudar em 2004. Comecei a pensar se ganhar uns trocadinhos não poderia ajudar nisso. E comecei a distribuir curriculums. Inclusive, levei um na empresa que ela tava trabalhando - ela já tinha conseguido efetivação. Fiquei uma semana como temporária apenas e fui efetivada também. Primeiro emprego, empresa de um considerável status, era algo bacana. Posso dizer que esse emprego foi uma das melhores experiencias da minha vida, apesar dos tropeços. Conheci muita gente, aprendi bastante coisa - tanto dos livros, como das pessoas. Aprendi que existiam pessoas falsas, que as pessoas muitas vezes agem por interesse próprio e que as vezes o ser humano é só um detalhe. E o vestibular? Ah, sim, eu o prestei. E passei. E me matriculei. 

E  comecei a estudar Direito. Porém, o que pegava: a faculdade era de um precinho bem salgado - e quem estuda, principalmente Direito, sabe que o custo vai beeeeem além da mensalidade - como a faculdade era em outra cidade, eu tinha que pegar ônibus  todos os dias, as 18.20 - eu trabalhava até 17.15, mais ou menos, tinha que chegar em casa, comer, banho, se desse tempo e sair. No relógio  beleza, era até tranks... o problema era o cansaço mental. Eu trabalhava com burocracia de documentos, papeis e livros o dia todo - chegava as 5 da tarde, meu cérebro já estava um bocado fundido. Além do que, quando você não tem certeza se é aquilo que você quer, qualquer obstaculo, por menor que seja, se torna intransponível - tipo uma pedra se transforma em uma montanha. Você não se esforça, você não se sacrifica. Além do que, o dinheiro não era suficiente. Pronto. Difícil assumir isso, mas é verdade. Eu ganhava um salário mínimo, que na época equivalia  a apenas metade da minha faculdade. Tá, tá, eu sei que não é desculpa. Mas o fato é que eu não queria estudar Direito. Então, dois meses depois, parei a faculdade. Continuei trabalhando, planejando me mudar no final do ano pra casa de uma tia, e fazer facul de Letras. No entanto, quando eu estava pronta para pedir demissão, minha mãe me chamou pra uma conversa franca e disse que eu não poderia estudar no final do ano. Motivos vários. Tipo quis me dar um choque de realidade. Mas  enfim, acabei, com muito pesar, não indo. E a partir daquele dia, comecei a empurrar as coisas com a barriga. Foi até eu desenvolver uma inflamação nos tendões que me fez parar com tudo de vez, inclusive de trabalhar. Entre sessões de fisioterapia, medicamentos para dor - que me geraram uma gastrite, 
 e consultas no ortopedista quase semanais, eu deixei de pensar no futuro. Eu estava com um problema considerado sem cura e não podia fazer nenhum tipo de esforço, a não ser os estritamente necessários. Esse fato era visto por muitos como "preguiça","frescura" e "falta do que fazer". Isso machucava bastante, inclusive quando isso era usado para me atacar, por eu não estar trabalhando ou estudando. Mas enfim, passou. Me curei, ao contrario do  que pensava. Um ano se passou e então voltei a ativa. Comecei a trabalhar num escritório recém  aberto. Apesar de me sentir meio desocupada - não tinha muito o que  fazer, alem de ficar sentada o dia todo, lendo - eu criei um ar novo, daqueles que você só tem quando começa a voltar a ativa de novo. E assim foi passando, até chegar o maior pesadelo da minha vida: a síndrome do panico. Na verdade, ela começou a se manifestar em meados de 2006, mas só durante viagens. Pensando se tratar de um desconforto, não me  preocupei. Mas certo dia, quando em um pronto socorro por causa de um mal estar cronico durante uma viagem, descobri o nome da bendita. Porém ela se complicou em 2007, quando comecei a ter crises em casa. Saindo para o trabalho. E tive que começar a me tratar com medicação. A adaptação foi dura e como merda atrai merda, tive uma reação  alérgica no meio disso tudo e tomei uma dose de calmantes bruta para acalmar os nervos. Passou. Fiz tratamento e continuei a trabalhar. Não deu certo. Consegui outro. Não deu certo também. Troquei a medicação. Parei com a medicação. Fiz concursos, vários. Fiz inscrição pra universidade federal e não fiz a prova (não necessariamente nessa ordem). E em meio a isso, uma intensa cobrança - a mais inteligente da família  a superdotada, a fenomenal...  - e foi tamanha a cobrança que eu passei a me cobrar também, e a me culpar por não ser esse formato de pessoa que sempre "deveria ter sido". E hoje, olhando pra trás, ainda me culpo,pelo tempo que passou e não evolui absolutamente em nada em termos acadêmicos - apenas trabalhei, fiz alguns concursos e aprendi dois idiomas sozinha. E meu coração dói as vezes ao ver as pessoas que fazem as coisas no seu devido tempo, assim como deve ser, e aproveitam o momento. Ao meu ver, eu não aproveitei minha juventude pra estudar, entrar numa faculdade e fazer o que devia ser feito. Sei lá... as vezes eu precise me respeitar mais e me aceitar.

Porque apesar de ser uma hiper madura em termos intelectuais, muitos esquecem que o emocional as vezes não acompanha o mental. E é esse conflito que gera duvidas, que gera estagnação, que gera erros. Eu sou uma pessoa que nasceu com uma enorme capacidade mental - e ao mesmo tempo, um coração enorme do tamanho do mundo. Mais sentimental que o Altemar Dutra. Com apenas duas mãos e o sentimento do mundo, como costumava dizer Drummond. Então, são duas grandes forças opostas, que nem sempre é fácil conciliar.  E que estou aprendendo, graças a Deus. A verdade é que durante todo esse tempo, eu estava fazendo meio que uma "faculdade emocional". Era necessário - e só eu entenderei porque precisei disso, não adianta comparar com esse nem aquele. O fato é que o emocional precisava disso para poder se levantar e caminhar. Pronto. Isso feito, é hora de amadurecer o intelectual. Não que os dois tenham estado ou ficarão estagnados por todo esse tempo. De maneira alguma. Como dizia meu célebre e também sofredor Luiz Gonzaga Júnior, a vida é cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Graças a Deus. É respeitar o seu eu, se respeitar e não se comparar a uma vida que não é a sua. É reconhecer suas necessidades. É, sobretudo, ouvir seu coração. Ou silenciá-lo as vezes. É se aceitar e se amar, do jeito que se é. E se meu coração mandou que fosse assim, assim foi. A mente não aceitou, mas ela há de aceitar, porque eles necessitam caminhar, não juntos que isso é impossivel, mas digamos, mais ou menos pareados. Um consulta o um, e o outro consulta o outro. Pronto. E a pergunta roda, e a cabeça agita...  somos nós que fazemos a vida... e cantemos a beleza de ser um eterno aprendiz! :)

Gonzaga Jr.: sofrimento só fê-lo amar a vida. Mais e mais.


Bjinhoss e até mais!!!
E lembre-se: você é especial exatamente por ser do seu jeito. ;)


(publicando esse post dpois de uma pane no pc, provocada por coca-cola... aff Maria... kkk)